Eu tenho a ligeira impressão de que as relações mais amorosas estão nos percursos. Porque no fim das contas a festa é a festa, o bar é o bar, o cinema é o cinema e o motel é o motel. Todos muito delimitados por um triângulo de normas, tradições e expectativas. Nos percursos, só a imprevisibilidade do estado natural das coisas. Ama-se muito mais no caminho de volta pra casa, até quando a casa é a mesma, do que num cinema a dois. Ama-se muito mais até o ponto do ônibus ou no trajeto até a praia. Na academia pode ser paixão, tesão, mas naquele caminho de volta para casa é onde aparece o amor – ‘A gente se vê’.
O importante, para mim, é chegar junto. É o percurso. Quando estamos lá, a gente pode até se perder no meio dos amigos, dos desconhecidos, das previsibilidades. Mas o voltar, o ir… O percorrer, junto(s), faz toda a diferença. A quantas anda o ‘cá para lá’ ou ‘lá pra cá’ com sua companheira – ou seu companheiro – é o que importa. O amor fica visível nos trajetos percorridos, dos mais triviais aos mais sofisticados. Há uns casais que, em crise, pensam em melhorar as coisas indo justamente onde as coisas são exatamente o que são (e nada além disso, se é que me entendem). A festa vai ser sempre a festa; o bar, o bar. A mesma coisa com o cinema ou o motel. Mas no caminho até a padaria, o supermercado… Na madrugada, voltando para casa… Muito louco.