Protético prótese aparelho orçamento grátis. Dentista clareamento. Protético prótese orçamento grátis. Embalada nesse mantra a mulher protege os miolos dos raios de sol embaixo da marquise de uma loja de roupas femininas na esquina de uma das transversais da rua do Catete. Segura uma prancheta contra o corpo enquanto oferece panfletos do patrão a quem passa por ali, todos os dias. É meu aniversário, são 29 anos, eu estou voltando da academia e a mulher me oferece um panfleto como um presente, um mimo, ensaia um sorriso em dissonância com a expressão dos olhos tristes. Eu aceito. Num primeiro momento, acredito que o suor no rosto seja nossa única coisa em comum. Ela está em pé há horas oferecendo serviços dentários, protege-se como pode do calor. Combina calça preta com colete preto, o tecido é o mesmo e parece ser de pouca qualidade, daqueles que chupam o líquido que sai do corpo revelando o verdadeiro cheiro daquilo que a gente é: carne. Eu também estou suado, mas a água que sai do meu corpo faz parecer um capricho.
Aceito um panfleto como fiz ontem e como farei amanhã, tudo está como costuma ser, a exceção é que faço aniversário, agora tenho 29 anos. Minha carne tem 29 anos, funciona há 29 anos sem descanso, as veias se alargam com os jatos de sangue há todo esse tempo, não sei, tudo parece muito impressionante – mais impressionante ainda é o funcionamento da carne da cabeça, ela cria a mente e dela saem todas as coisas. É nela, na minha mente, que a mulher-propaganda reverbera quando passo pela rua do Catete. Ela segue distribuindo panfletos, não imagina nada disso, protético prótese aparelho orçamento grátis, tampouco sabe que é meu aniversário, dentista clareamento, não faz ideia que eu agora tenho 29 anos e que até aquele momento, protético prótese orçamento avaliação, várias pessoas queridas já haviam me desejado felicidades na vida. Parabéns, Fred, felicidades!
Eu volto da academia cansado, não mais cansado que uma mulher que distribui panfletos numa das esquinas do Catete; penso nas pessoas queridas que me desejaram parabéns e felicidades na vida. A vida, no fim das contas, descontados os momentos de euforia e tristeza, desconsideradas as grandes viagens e festas inesquecíveis, tem muito desse percurso, entre minha casa e a academia e o mercado e o bar e o restaurante. Tem muito da mulher que oferece panfletos e que todos os dias, todos eles, reverbera na minha mente. A minha vida é essa mulher e é também o mendigo com a perna inchada, é o rapaz bonito que veste a propaganda de uma loja de vinhos, é a árvore na calçada cuja raiz levanta o asfalto, é o cão da vizinha que grita como um bebê, é o grafite na parede do palácio, a atendente que se oferece à cor dos meus olhos na lanchonete, a velha surda do 507, é a poça que se forma próxima ao coreto modernista no Aterro, é o que vocês escrevem por aqui e eu leio, é também o que eu evito ler. Agora eu tenho 29 anos e vou entendendo melhor as coisas, estão ligados? E vai ficando tudo mais interessante quando eu percebo que o que temos em comum, eu e a mulher-panfleto, vai muito além do suor no rosto, é uma vida. E ela nada mais é, como disse Vinicius de Moraes, “uma tarde sempre a esquecer”. A gente deve procurar valorizar mais isso. Eu sigo tentando.
Quero agradecer a todos os desejos de felicidades pelo meu aniversário. A torcida de vocês está funcionando. Muito obrigado!