28/06

O mês do orgulho ainda não é o mês da vitória, mas sim da vitória da coragem. Eu digo isso, com muito orgulho, porque desde cedo, no início de tudo, a gente tem que vencer o medo.

A crença de que o que você sente é passageiro, saibam vocês, logo passa – por mais que a tentativa do autoengano persista às vezes de modo muito convincente. Mas é o medo que prevalece.

O medo se alarga, toma o centro das coisas, ganha massa, pesa e se espalha. É taciturno, mas também é violento. E aí, em algum momento, você traça um cenário complexo de possibilidades sobre como poderia a sua própria família reagir a quem é você. E você sente medo. E passa a ter medo também da família dos outros, do pai do seu melhor amigo que, de uma hora para outra, pode deixar de te convidar para viagens de final de semana, pode se incomodar com a sua presença no quarto, no banho. É o medo.

O medo, como uma praga, alcança as suas relações sociais, os amigos (e os inimigos) na escola, a sua relação com professores, a sua banda de Heavy Metal. E é o medo que te faz se comportar como você não gostaria; de ir a uma festa e beijar uma pessoa pela qual você não nutre o mínimo desejo, de reforçar estereótipos, de maltratar na escola quem na verdade você tem vontade de se aproximar. O medo de não enxergar nenhum horizonte possível e minimamente viável de se relacionar com quem você ama ou deseja. O medo constante da impossibilidade – é gigantesco, acreditem. É enorme o medo de ter que se apaixonar calado.

E aí você explode, cedo ou tarde. Você beija em público, pela primeira vez, com o peito explodindo de emoção, mas com muito medo. Medo da reprovação, do nojo, da humilhação, de um soco na cara. O medo por você e pelos seus, por quem você ama, por imaginar sua mãe tendo que lidar com uma piada sobre o filho numa mesa de jantar. O medo, sempre o medo. Desde sempre, o medo. No alistamento militar, na chopada da faculdade, na hora de fazer o checkin no hotel – cama de casal?. É o medo.

Um dia, saibam vocês, não haverá medo. E esse dia será o dia da vitória. Por enquanto seguimos comemorando a vitória da coragem, sobre cada medo vencido – e são muitos. E por isso são muitas vitórias. São vitórias diárias a serem comemoradas. E essas vitórias deixam a carne cascuda e o espírito elevado, cada vez mais forte. Sintam orgulho, estamos vencendo o medo. Venceremos, todos juntos, o medo.