Lá pelas tantas, matando as saudades, depois da gelada com os homens que vez em quando se arriscam numa fezinha, encontrei um dos maiores vilões do Catete. Nos abraçamos, mais até do que eu gostaria, ele questionou meu paradeiro e disse que nunca mais havia me visto por aquelas bandas. Eu me adiantei dizendo que estava de folga, passei um tempo fora para sentir falta daquilo tudo, mas estava de volta; não largo o osso, tá ligado? Elogiou minha camiseta, perguntou se eu não arranjava uma para ele matar no peito, fim de ano, sabe como é, fica tudo mais difícil com pouco bico. Me pediu um cigarro, disse que gosta de mim porque não olho ninguém de cima para baixo. Dei dois.
Enquanto ele baforava a fumaça – já com um dos cigarros acomodado na orelha, outro dos vilões passou por nós dando uma encarada. Trocaram olhares – não devem se bicar. O cara é daqueles que prestam serviço da alçada do Estado, já que a onda aqui é privatização a la brasileira. Ele cuida da área, afasta as ratazanas, tem meu respeito, homem sério cuja cara já faz borrar as calças de quem pensa em cometer pequeno delito. Diz que anda armado. Seguiu seu caminho no balançar da corrente dourada enrolada no punho.
Eu e meu parceiro continuamos matando as saudades, perguntou se eu estava precisando de algum serviço, coisa de pintura, pequeno reparo. Percebi que estava mais magro; respondi que não, mas caso soubesse de algo avisaria. O papo fluiu como sempre fluiu, eu, desinteressado, ele falando sem parar, conexão olho a olho, sem desvio. Eu me afastava um pouco numa tentativa de desviar os pingos de saliva que voavam em minha direção, um acertou o canto do meu lábio em cheio, que merda! Tava na hora de seguir para casa. Disse que precisava ir embora, já estava tarde e o dia seguinte começava cedo. Apertamos as mãos, mais um abraço demorado, ele precisava de um banho, de roupas limpas. Se despediu feliz por saber que vamos voltar a nos esbarrar mais vezes, vai filar cigarro, quem sabe um pouquinho da cerveja, dez minutos de atenção, como sempre. Sem saber exatamente o porquê, eu também estava feliz por ter certeza que vamos sempre nos ver por aí.