Faça chuva ou faça sol, a moça baixinha que malha no mesmo horário que eu não falta dia sequer. Pega pesado. Ela é muito querida na academia, acho graça. Eu, que só abro a boca para cumprimentar os funcionários e o rapaz que nunca tirou o boné – entrou magrinho e hoje está um touro -, passo os intervalos entre as séries acompanhando com os olhos a fauna da academia. É tudo muito doido. Dia desses foi aniversário da baixinha, ela levou uma caixa com pedaços de bolo já fatiados e embalados em papel alumínio para que “o pessoal” pudesse comer depois. Tudo com muito cuidado, estão ligados? Imagino ela confeitando o bolo na noite anterior, beliscando sem culpa um pouquinho da cobertura – afinal, é aniversário dela. Saiu distribuindo por entre a floresta de aparelhos até o bolo acabar. Todo mundo cantou parabéns e ela sorria-serelepe. Eu, de longe, fiquei sem bolo e me contive em olhar para a muvuca esboçando sorriso de quem é solidário à festa. Eu estava ouvindo música e pensando como é estranho alguém “ser querido” na academia, um lugar feito pra estar, tão difícil de “ser”. Sinto-me nada na academia. Sinto-me estando. A moça foi tirando fotos, agradecendo as felicitações, corou com o parabéns, abraçou os instrutores. Ela é tão querida. Que loucura. Me imagino levando um bolo para a academia, as pessoas que eu não conheço cantando parabéns. É como algo de outro mundo, um mundo completamente diferente do meu, ali ao lado, no supino, na fila do bebedouro, todos os dias. Fico pensando porque o rapaz nunca tirou o boné. Tudo muito doido.